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Tradutor: Maurício Kakuei Tanaka
Revisor: Maricene Crus
A infantaria de ataque avança firmemente,
e seus elefantes já romperam
a linha de defesa.
O rei tenta recuar,
mas a cavalaria inimiga
o ataca pela retaguarda.
É impossível fugir.
Mas essa não é uma guerra real,
nem apenas um jogo.
Durante os quase 1,5 mil anos
de sua existência,
o xadrez é conhecido
como um instrumento de estratégia militar,
uma metáfora para assuntos humanos
e uma referência de talento.
Embora os registros mais antigos
do xadrez sejam do século 7,
diz a lenda que as origens do jogo
são de um século antes.
Supostamente, quando o príncipe mais jovem
do Império Gupta foi morto em batalha,
seu irmão criou uma maneira de representar
a cena para a mãe em luto.
Disposto no tabuleiro
"ashtāpada" oito por oito,
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usado para outros passatempos populares,
surgiu um jogo novo
com duas características principais:
regras diferentes para mover
tipos de peças diferentes
e uma única peça para o rei,
cujo destino determinava o resultado.
O jogo ficou conhecido
originalmente como "chaturanga",
uma palavra em sânscrito
para "quatro divisões".
Mas, com a expansão
para a Pérsia sassânida,
adquiriu o nome e a terminologia atuais:
"xadrez", derivado de "shah",
que significa rei,
e "xeque-mate", de "shah mat",
ou "o rei está indefeso".
Após a conquista islâmica
da Pérsia, no século 7,
o xadrez foi introduzido no mundo árabe.
Transcendendo seu papel
como simulação tática,
acabou se tornando uma rica fonte
de imagens poéticas.
Diplomatas e cortesãos
usavam termos do xadrez
para descrever o poder político.
Governantes califas
tornaram-se jogadores ávidos.
O historiador Almaçudi considerava o jogo
uma prova do livre arbítrio humano
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em comparação aos jogos de azar.
O comércio medieval na Rota da Seda
levou o jogo para o Leste
e para o Sudeste Asiático,
onde se desenvolveram
muitas variantes locais.
Na China, as peças de xadrez
eram colocadas nas intersecções
dos quadrados do tabuleiro
em vez de dentro deles,
como no jogo de estratégia Go.
O reinado do líder mongol Tamerlão
viu um tabuleiro de 11 por 10,
com quadrados seguros chamados cidadelas.
No "shogi" japonês, peças capturadas
podiam ser usadas pelo jogador adversário.
Mas foi na Europa que o xadrez
começou a assumir sua forma moderna.
No ano 1000, o jogo já fazia parte
da educação na corte.
O xadrez era usado como uma alegoria
para classes sociais diferentes,
que desempenhavam papéis apropriados,
e as peças foram reinterpretadas
nesse novo contexto.
Ao mesmo tempo, a Igreja
continuava desconfiada dos jogos.
Os moralistas alertavam
contra a dedicação excessiva a eles,
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e o xadrez foi até mesmo
brevemente proibido na França.
Porém o jogo proliferou,
e, no século 15, tomou a forma
que conhecemos hoje.
A peça relativamente fraca do conselheiro
foi reformulada
como a rainha mais poderosa,
talvez inspirada pelo aumento repentino
de líderes femininas fortes.
Essa mudança acelerou o ritmo do jogo
e, conforme outras regras
tornavam-se populares,
surgiam tratados que analisavam
aberturas e finais de jogo comuns.
Nascia a teoria do xadrez.
Com a era do Iluminismo, o jogo
passou das cortes reais para os cafés.
O xadrez passou a ser visto
como uma expressão de criatividade,
que incentivava movimentos ousados
e jogadas dramáticas.
Esse estilo "romântico" atingiu seu auge
na "Partida Imortal" de 1851,
em que Adolf Anderssen
conseguiu aplicar um xeque-mate
depois de sacrificar sua rainha
e as duas torres.
Mas o surgimento do jogo competitivo
formal, no final do século 19,
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significou que o cálculo estratégico
acabaria superando o talento notável.
Com o aumento da competição internacional,
o xadrez assumiu uma nova
importância geopolítica.
Durante a Guerra Fria,
a União Soviética dedicou grandes recursos
para desenvolver talentos no xadrez,
dominando os campeonatos
pelo restante do século.
Mas o jogador que realmente
impediria o domínio russo
não era um cidadão de outro país,
mas um computador da IBM
chamado Deep Blue.
Computadores que jogavam xadrez
vinham sendo desenvolvidos há décadas,
mas a vitória de Deep Blue
sobre Garry Kasparov em 1997
foi a primeira vez que uma máquina
tinha derrotado um campeão ativo.
Hoje, o software de xadrez
consegue derrotar de modo consistente
os melhores jogadores humanos.
Mas, assim como o jogo que dominam,
essas máquinas são produtos
da engenhosidade humana.
E talvez essa mesma engenhosidade nos guie
para sairmos desse aparente xeque-mate.
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